Atualmente, uma das maiores discussões no mercado da Bacia de Campos gira em torno da política de segurança aérea e nela, a obrigatoriedade do Huet (Treinamento de Escape de Helicóptero Submerso) é um dos assuntos em evidência. Outras mudanças discutidas na área de segurança são: melhorias na infra-estrutura aeroportuária, nos equipamentos de segurança e adequação das aeronaves em atividade

São mais de 30 anos da Bacia de Campos e, para que se alcançasse a auto-suficiência, houve avanço da produção de petróleo com a entrada de novas unidades perfuradoras e, conseqüentemente, necessidade de aumento na demanda de trabalhadores embarcados. Mas o sistema de logística não acompanhou este desenvolvimento, evidenciando problemas na área de segurança aérea.

Há alguns anos, os transportes eram feitos em catamarãs e helicópteros e, desde 2005, passaram a ser efetuados apenas por via aérea, resultando na sobrecarga de passageiros no Aeroporto de Macaé. Alguns embarques são efetuados no Heliponto do Farol de São Thomé, em Campos, mas ainda não foi o suficiente para aliviar o fluxo de passageiros da unidade aeroportuária de Macaé.

Dados apresentados pelo superintendente da Infraero em Macaé, Hélio Batista dos Santos Filho, revelam que a unidade aérea está com sua capacidade saturada. Somente em 2007, o movimento foi de 400 mil passageiros para um terminal previsto para atender a uma demanda de 135 mil por ano. Deste volume, 98% correspondem à movimentação offshore. Segundo informações da Gerência de Comunicação e Segurança da Informação da Petrobras, somente da estatal são 51mil passageiros/mês saindo de Macaé e Farol de São Thomé para as plataformas.

Como um órgão que tem por missão atender às necessidades da sociedade relativas à infra-estrutura aeroportuária e aeronáutica, a Infraero prima pela eficiência, segurança e qualidade dos serviços.

“Nesta nova administração, temos como meta a segurança e o conforto. Existe um projeto pronto há dois anos, mas que necessita ser adaptado à realidade para que seja funcional para o atendimento a essa grande demanda offshore. Este ano, recebemos a visita do diretor de operações da Infraero que ficou abismado com a situação. E decidimos que, enquanto não sai o projeto, vamos reformar o aeroporto, pois não dá pra esperar mais”, garante o superintendente.

A respeito da segurança, o quadro de acidentes aéreos ocorridos nos últimos anos na Bacia é o que mais preocupa. A situação mostra que é importante que haja mudanças emergenciais na segurança aérea da atividade offshore. Para Hélio Batista, o primeiro passo a ser tomado é a criação de um órgão legislador específico para o setor. “Aqui nós temos dois organismos: a Marinha e a Aeronáutica que opinam para uma mesma situação, mas cada uma com legislação voltada para sua própria área. Não é que elas sejam conflitantes, mas precisam ser interligadas”, enfatiza.

O superintendente informou que está prevista para este ano, em Macaé, a realização de um grande Seminário de Segurança de Vôo, em que serão abordados temas importantes sobre o assunto e no qual vê uma oportunidade para as pessoas tirarem suas dúvidas e, inclusive, apresentar sugestões. “O trabalhador precisa de um local onde ele possa ter voz e obter respostas objetivas e de mudanças. Esta pode ser a oportunidade”, argumenta.

Trabalhadores reivindicam melhorias

O Sindipetro-NF ostenta o papel de defensor de que medidas emergenciais devem ser adotadas pela Petrobras para que os trabalhadores possam embarcar com mais segurança. O órgão, que há anos denuncia problemas de falta de segurança nas operações, ressalta que os dois últimos acidentes (em 2004 e 2008 com aeronaves), além de outros incidentes, mostram que a Estatal deve realizar mudanças na gestão da segurança dos trabalhadores embarcados.

O sindicato lançou uma nova campanha sobre segurança de vôo no início deste ano. O diretor de comunicação do Sindipetro, Marcos Breda, enfatiza a necessidade de soluções pertinentes, como a criação de um órgão legislador e uma legislação específica para atividades offshore, além de investimentos por parte das empresas em equipamentos eficazes de segurança e conforto, treinamentos indispensáveis como o Huet (Escape de Helicóptero Submerso) e programas de natação para todos os trabalhadores.

“Entendemos que as normas e os custos não podem se sobrepor à segurança. No próprio discurso da Petrobras, que é a maior empregadora na área de petróleo, afirma-se que a segurança está acima de qualquer coisa e, na nossa visão, isso tem que se tornar prático”, ressalta Breda.

Ele lembra que os sindicatos dos petroleiros são reunidos na Federação Única dos Petroleiros (FUP) e que através dela tentam exercer pressão sobre os parlamentares e influir nas legislações que têm relação com a atividade petrolífera. Mas, segundo o diretor, nem sempre isso gera frutos. “A atividade política hoje no Brasil está um pouco marcada por denúncias, pela corrupção e por embates entre governo e oposição, o que torna difícil o avanço dos projetos no congresso, principalmente aqueles de interesse do trabalhador”, lamenta.

Com as reivindicações do Sindipetro-NF iniciadas em 2004, algumas mudanças foram conquistadas, como a retirada dos bancos laterais da fileira central das aeronaves S76 que dificultavam a saída do passageiro em caso de acidente; criação de uma janela de emergência para os bancos laterais nas novas aeronaves, mas que ainda não é adequada; e a decisão por parte da Petrobras de colocar novamente uma comissária nas aeronaves Super Puma.

Breda defende que o sindicato tem uma visão de segurança aérea na Bacia de Campos, que é a mesma concepção dos trabalhadores, independentemente das normas da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Segundo ele, existe uma cláusula no Acordo Coletivo que lhes dá direito de se recusar a embarcar numa aeronave quando entendem que aquela atividade oferece risco ao trabalhador. Essa análise inicial que realizam é submetida a um gerente imediato e caso este entenda que ela proceda, mantém a interrupção da atividade.

Entre as soluções sugeridas pela classe é de que haja uma mudança no Programa de Excelência Operacional Aéreo (PEO-AR), implantado pela Petrobras depois do acidente aéreo de 2004, gerando a criação de uma gerência específica para a área de segurança aérea na empresa. “O que constatamos é que aconteceu uma nova tragédia que matou pessoas. O programa pode ser considerado excelente, mas não conseguiu evitar o acidente, portanto, precisa de modificações”, enfatiza o diretor.

Petrobras está atenta às necessidades e apresenta melhorias

A Petrobras vem implantando diversas ações e mudanças na área de segurança aérea para que haja uma adequação com a demanda e com as necessidades dos empregados. Segundo o gerente e coordenador de SMS da Petrobras UN-BC, Cremilson da Silva Rangel, o transporte dos trabalhadores para as plataformas passou a ser efetuado somente por via aérea, devido às condições adversas de mar, que resultavam no cancelamento das programações de embarcações marítimas, transferindo os passageiros das lanchas para helicópteros.

“Era um transtorno grande, porque tínhamos uma frota delimitada para passageiros aéreos. Muitos acharam que a mudança era por conta de custos, mas era pela questão do tempo e saúde do funcionário. Por uma decisão dos gerentes da Bacia de Campos, optaremos por amenizar este transtorno, aumentando em 50% o número de aeronaves para atender à demanda e não haver superlotação”, esclarece o gerente.

Dentre as melhorias, a Petrobras também construiu um heliponto no Farol de São Thomé, em Campos, que tem capacidade reduzida e onde ocorrem as trocas de turno para pessoas fixas nas plataformas, deixando os vôos eventuais, de emergência, extras e de comitiva para Macaé.

Mas as mudanças vão além e está prevista para 2009/2010 a construção de um aeroporto, também no Farol de São Thomé, que será de uso privativo da Petrobras e voltado para operações com helicópteros. Este novo aeródromo terá capacidade de movimentação de 750 mil passageiros por ano. Já em Macaé, a estatal iniciou a construção de um terminal de embarque no Aeroporto, visando a melhorias nas condições estruturais.

Os avanços nesta área estão incluídos no Programa de Excelência Operacional em Transporte Aéreo e Marítimo – PEOTRAM, da Petrobras, criado em 2001, com curtas, médias e longas ações. Muitas das reivindicações pleiteadas pelos trabalhadores já foram implementadas pela empresa, como a inserção de uma comissária de bordo na aeronave modelo Super Puma com 19 assentos, apesar da legislação exigir apenas nas aeronaves acima de 20 passageiros. Também está exigindo das empresas contratadas que coloquem cinto de três pontas e um modelo mais atual e adequado de colete salva-vidas nas aeronaves para substituir os de pochete.

“São poucas as aeronaves que ainda utilizam o colete mais antigo. Também iremos comprar mais de 50 mil coletes contrastantes, que na verdade são uma roupa de uso pessoal do trabalhador, que facilita na localização de uma vítima no mar em caso de acidente. Temos um prazo de três meses para implementar essas ações”, garante o gerente.

Quanto à exigência do Huet, o gerente informou que recentemente um grupo da Bacia de Campos estudou assuntos relacionados ao treinamento, analisando principalmente como ele ocorre na área internacional. Foi observado que no Golfo do México são poucas as empresas que o exigem e que, no Mar do Norte, há apenas uma porcentagem maior. Em alguns casos, somente há obrigatoriedade para embarque superior a três dias.

“No Brasil, a legislação marítima não exige esse treinamento e a própria Marinha afirma que também estuda essa obrigatoriedade. Segundo eles, por ser um treinamento puxado, de risco e com reciclagem e mercado indiferente à demanda de trabalhadores, é improvável que seja acatado”, explica.

Na observação de Cremilson, a obrigatoriedade pode ocasionar um problema social, uma vez que poderá haver alguma resistência por parte dos trabalhadores. Ainda sem definição, a companhia está analisando a melhor forma de implementá-lo, seja garantindo o direito de recusa do empregado ou mesmo separando o Huet em módulos teóricos e mais práticos, com filmes instrutivos, numa forma de amenizar o impacto do treinamento.

Nas multinacionais o Huet é obrigatório

A Pride do Brasil, uma das maiores empresas de perfuração contratantes do mundo, atua com foco na segurança e, segundo Alex Oliveira, supervisor de treinamento e desenvolvimento, a empresa investe no funcionário, valorizando sua vida e profissão. Em relação à Segurança de Vôo na Bacia de Campos, a empresa vai além do treinamento de Huet oferecido aos seus funcionários.

O trabalhador contratado pela Pride, antes de embarcar, primeiramente passa por um curso de indução, com treinamentos voltados para segurança, procedimentos e regras da empresa. Num segundo momento, passa pelos treinamentos de BST (salvatagem) e de Huet, que são indispensáveis.

“Posteriormente, conforme calendário de nossa empresa, estes mesmos funcionários, quando disponíveis, participam de treinamentos periódicos adicionais, em que reforçamos os conceitos de segurança, como utilizar os equipamentos de segurança e sua importância, bem como se comportar diante de uma situação de risco ou de acidente”, explica o supervisor.

Para Alex, a cultura de segurança no mercado offshore brasileiro mudou e as palavras redução de risco, segurança, bem-estar e qualidade significam prioridade para as empresas, apesar de se ter total consciência de que é improvável alcançar 100% de resultado.

Neste mercado, as multinacionais deram seus primeiros passos, o que vem contagiando outras empresas e mudando o olhar a respeito do “custo-benefício”. “Acredito que em breve o Huet, por exemplo, será um treinamento mandatório”, afirma.

Importância do Huet e equipamentos de segurança

Com a regulamentação dos treinamentos offshore feita pela Marinha através da Normam 24, as empresas de treinamento devem oferecer requisitos fundamentais para realizar seus cursos, como construir cenários de forma que possam treinar pessoas dentro de uma situação bem próxima da realidade a bordo nos casos de emergência.

A Falck Nutec é uma das empresas que oferecem esse treinamento no mercado. Possui no seu centro de treinamento, o maior da América Latina, uma piscina equipada com máquinas de ondas e simuladores que controlam vento, chuva, som e luminosidade, reproduzindo ao máximo situações de risco do ambiente offshore, realizando o treinamento de Huet desde 2005. A empresa possui um moderno simulador que segue padrões europeus, moldado de acordo com normas do OPITO (Offshore Petroleum Industry Training Organization). Ao longo desses três anos no Brasil, foram treinadas mais de 5.600 pessoas.

A diversidade de equipamentos de segurança de vôo e sua funcionalidade também são apresentadas aos alunos, como é o caso dos coletes salva-vidas. O supervisor Paulo César Carvalho diz que este é um equipamento fundamental para sobrevivência no mar, mas que na Bacia de Campos é diferente do que ocorre no cenário internacional, pois aqui ainda se utiliza coletes considerados inadequados para uma situação de emergência.

“Comumente, as empresas de táxis aéreos utilizam aquele que chamamos de “pochete”, que o passageiro tem que retirar de uma bolsa e vestir. O ideal é aquele com o qual a pessoa já sai vestida da base de embarque e no caso de emergência é só inflar, assim que abandonar a aeronave”, explica.

Alguns coletes modernos vêm com um respirador, eficazes em águas frias, permitindo ao passageiro respirar embaixo d’água e ter mais chances de escapar de uma aeronave submersa. O colete MK 28, segundo Paulo César, exigido pela Shell, é o mais recomendado e adequado ao clima desta região.

O tratamento dado ao treinando também é um diferencial. “Nosso treinamento tem foco offshore. Mas como quem trouxe o Huet para o Brasil foram as Forças Armadas, outras instituições do mercado conduzem o curso de forma rígida, o que cria uma repulsa muito grande por parte dos alunos. Nossa empresa lida com pessoas de forma bem cordial, trabalhando principalmente o emocional”, ressalta o supervisor.

Quem fez o curso, seja pela primeira vez ou mais, garante a afirmativa do supervisor. João Márcio da Silva Cortês, 32 anos e plataformista da Pride do Brasil, diz que não sabe nadar e que tem medo de águas profundas. Ele passou pelo curso três vezes em cinco anos e apesar de ter ouvido coisas negativas a respeito do treinamento, disse que a realidade é outra.

“Quando cheguei ao curso, a aula teórica me tranqüilizou para realizar a prática. A equipe técnica da Falck é excelente e nos dá total segurança, eliminando nosso medo. Quando saio do curso, levo para meus companheiros a eficiência e a tranqüilidade do que vi. Tenho um amigo que fez o curso e sobreviveu a um acidente graças ao Huet, pois na hora da situação real, independentemente do pânico, ele disse que tudo o que aprendeu veio a sua mente”, relata João.

Apesar de ser do “sexo frágil”, Ana Gimol do Espírito Santo, 28 anos, radioperadora da Transocean, disse que estava fazendo o Huet porque iria embarcar pela primeira vez para uma plataforma. A aluna ressaltou que esse treinamento é indispensável e isso ela pôde perceber durante a realização do curso na Falck, que para ela se aproxima bastante da realidade.

“Fui bem recebida e tranqüilizada pela equipe na aula teórica e a imagem dramática se desfez. Na aula prática foi muito melhor e fiquei mais confiante e segura. Sem o Huet, você não tem praticamente nenhuma possibilidade de sobreviver. Preparada, sei que terei condições de me salvar. Agora, acho um absurdo não haver obrigatoriedade por parte de todas as empresas, pois uma pessoa sem noção alguma pode colocar em risco a vida de outros passageiros”, sinaliza Ana.

Lá fora, a operação offshore tem mais tradição que no Brasil, são mais de 20 anos à frente. Anualmente, mais de 80 mil pessoas em todo o mundo são treinados dentro dos padrões OPITO. “Criar uma norma para o Brasil demanda muito estudo e experiência. Então por que não utilizar a base da norma internacional e adaptá-la a nossa realidade?”, sugere Alexandre Reis, diretor operacional da Falck.

Em processo de homologação internacional, a empresa também estuda a viabilidade de construção de novas unidades de treinamento em áreas como Santos, Vitória e talvez no Sul do país.

MAIS: Conheça o HUET da Shelter.

FONTE: Macaé Offshore

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